Grandes Times- parte II: Holanda de 1974

Salve salve galera que nos acompanha aqui no blog, sejam bem-vindos mais uma vez. Estamos de volta trazendo a segunda parte desta trilogia. Na terça-feira falamos da Hungria de 1954 e agora é a vez de falarmos de uma outra seleção que fez história, encantou e infelizmente ficou sem título.

(icônica seleção holandesa de 1974 posando . Foto: retirada da internet)

Estamos falando da Holanda de 1974. A equipe do técnico Rinus Michels que em campo era comandada pelo maestro Johan Cruyff dentro de campo encantou nos campos da Alemanha, da mesma forma que a Hungria fez na Suíça, 20 anos antes. E que, por coincidência, a Alemanha venceu as duas equipes na final.

(Cruyff, o maior jogador holandês da história e cérebro daquele time. Foto: retirada da internet)

A equipe, que ganhou os apelidos de "Laranja Mecânica" (referência a um filme que fez sucesso na época) e "Carrossel" (pela forma em que a equipe atuava, com os jogadores sem posição fixas, fazendo um rodízio, mais ou menos como acontece no vôlei).

Como todos os grandes times nascem de algum projeto, com a Holanda não foi diferente. O chamado "futebol total" jogado pela Holanda de 1974 já era praticado por algumas equipes do passado, como por exemplo, o River Plate dos anos 40, apelidado de "La Máquina", o Racing Club na década de 60. Mas antes de tudo isso, o "futebol total" é creditado a um sujeito chamado Jack Reynolds, que treinou o Ajax em três períodos do século passado: entre as décadas de 10 e 20, depois entre o final da década de 20 e a década de 40 e  por fim, no pós-guerra, entre 1945 e 1947, para ser mais exato. E neste último período, um dos jogadores treinados por Reynolds era... Eureka! Rinus Michels.

E Rinus absorveu todo o conhecimento e o conceito do "futebol total" aplicado pelo seu treinador e antes de fazer o futebol holandês brilhar para o mundo com a seleção, ele teve muito êxito com o Ajax entre os anos de 1965 e 1971, trabalho esse que teve como coroação, o título da Copa dos Campeões Europeus (que hoje, você mais novo conhece como Champions League). O sucesso de Michels o credenciou para assumir a seleção holandesa e a base de excelentes jogadores (como o já citado Cruyff, Neeskens, Johnny Rep, entre outros). Porém, Michels só assumiu a seleção holandesa pouco antes da Copa disputada na Alemanha.

(Desenho tático da Holanda de 1974)

Mas eliminatórias, o treinador foi o tcheco Frantisek Fadrhonic, que havia comandado a equipe nas eliminatórias para a Euro de 1972, sem conseguir classificar. A história foi diferente nas eliminatórias para a Copa, onde a equipe neerlandesa, embora tenha empatado com a Bélgica em número de pontos (10 para cada) e nas duas partidas entre ambas o placar não tenha saído do 0 a 0, a Holanda se classificou no critério de desempate: se os belgas não sofreram nenhum gol, em contrapartida a Holanda teve um saldo de 22 gols (24 gols marcados e apenas 2 sofridos) e o passaporte carimbado para a Copa na Alemanha.

A campanha do carrossel nas eliminatórias foi a seguinte:

01/11/1972 - Holanda 9x0 Noruega
19/11/1972 - Bélgica 0x0 Holanda
22/08/1973 - Holanda 5x0 Islândia
29/08/1973 - Islândia 1x8 Holanda
12/09/1973 - Noruega 1x2 Holalnda
18/11/1973 - Holanda 0x0 Bélgica

Após a classificação, a KNVB (federação neerlandesa de futebol) conseguiu convencer Michels a assumir a equipe e continuar os preparativos para a Copa. A Holanda estava no Grupo C e seus adversários seriam Uruguai, Suécia e Bulgária. 

A caminhada da Holanda aconteceu em 15/06/1974, em Hannover, diante da semifinalista da Copa anterior, o Uruguai. E com gols de Rep (aos 16 e aos 86), os neerlandeses começavam a assombrar o mundo com seu futebol onde todos os jogadores (exceto o goleiro, por razões óbvias) trocavam de posições. O uruguaio Pedro Rocha lembrou desta partida: "Por duas vezes em campo eu quis chamar a minha mãe: a primeira vez foi quando eu tinha 17 anos, na minha estreia no clássico Peñarol x Uruguai no estádio Centenário e a segunda vez já com 32 anos quando enfrentei a Holanda. Quando peguei a bola pela primeira vez, vieram quatro adversários me marcar e me tomaram a bola. Na segunda vez, aconteceu a mesma coisa. E foi assim a partida inteira. Ali eu também quis a minha mãe".

(Aqui podemos entender porque Pedro Rocha quis a sua mãe. Vejam o uruguaio cercado por vários holandeses. Foto: retirada da internet)

Na segunda partida, em Dortmund, em 19/06/1974, empate com a Suécia por 0 a 0. Seria a única partida em que a Holanda não faria gol e era o único empate do time nesta Copa. Parabéns para a Suécia, única equipe junto com a Alemanha que conseguiu segurar a Laranja Mecânica.

(Capitães da Holanda e Suécia trocam as flâmulas. Foto: retirada da internet)

A Holanda chegou à terceira partida, em 23/06/1974, diante da Bulgária, novamente na cidade de Dortmund,  precisando vencer para não depender de qualquer outro resultado. E a vitória veio fácil: 4 a 1, com gols de Neeskens (5 - pênalti e 44), Rep (71) e De Jong (88), a vaga em primeiro lugar em seu grupo estava garantida.

(Cruyff diante da Bulgária. Foto: retirada da internet)

Naquela edição, não tivemos fase de mata-mata, então, das 16 equipes que jogaram aquela edição, 8 passavam à segunda fase, onde se dividiriam novamente em grupos de 4 times, onde todos jogaria contra todos, com os campeões dos grupos fazendo a final, enquanto que os segundos colocados jogariam a decisão de 3º e 4º lugares. E a Holanda tinha em seu grupo os atuais campeões (Brasil), a Argentina e a seleção da Alemanha Oriental (que havia vencido a Alemanha Ocidental na fase anterior).

Em 26/06/1974, na cidade de Gelsenkirchen, a Holanda foi impiedosa com a Argentina: 4 a 0, com gols de Cruyff (10 e 90), Krol (25) e Rep (73). A Holanda liderava a chave, já que o Brasil havia vencido a Alemanha Oriental pelo escore de 1 a 0. E o mundo seguia assombrado com esta equipe que dava show.

(Aqui podemos assistir aos gols da impiedosa goleada da Holanda sobre os hermanos. Youtube)

Em 30/06/1974, a Holanda jogaria novamente em Gelsenkirchen e o adversário era a Alemanha Oriental: vitória por 2 a 0, com gols de Neeskens (7) e Resenbrink (59) e a vantagem pelo empate diante do Brasil, que seria o próximo adversário e havia vencido a Argentina por 2 a 1.

(Lance de Holanda x Alemanha Oriental. Foto: retirada da internet)

E chegou a hora da decisão, em 03/07/1974, a Holanda voltava à cidade de Dortmund para enfrentar o Brasil, em jogo que valia a vaga na final. Com Argentina e Alemanha Oriental já sem chances, o jogo decidiria quem iria à final e quem jogaria a decisão de 3º e 4º lugares. Zagallo, o então técnico da seleção Brasileira e que defendia o título da Copa anterior, deu uma declaração, desdenhando da seleção neerlandesa: "A Holanda é 'tico-tico no fubá". Seria mesmo, "Zégallo"? A história nos mostra que não. E apesar do primeiro tempo encerrado sem alteração no placar, a Holanda voltou deslumbrante e simplesmente engoliu a seleção brasileira, em 15 minutos fez 2 a 0 (Neeskens aos 50 e Cruyff aos 65) classificou aquela seleção que encantava o mundo e jogava a covarde seleção brasileira que jogava na defesa e não era nem sombra da equipe de 1970 para o jogo de 3º e 4º lugar. 

(Através do Canal 100 podemos assistir aos gols da Holanda sobre o Brasil)

A Holanda chegava à final com uma campanha impressionante: Eram 4 vitórias em 5 jogos, 1 empate. 14 gols marcados e apenas 1 gol sofrido. Apenas a Polônia (que perderia para a Alemanha a vaga na final e venceria o Brasil na decisão de 3º e 4º lugares) tinha um ataque melhor, com um gol a mais. A Laranja Mecânica era cotadíssima como a favorita ao título, mesmo que do outro lado existissem os donos da casa e em busca do 3º título.

A grande final foi realizada no Olympiastadion, na cidade de Munique, em 07/07/1974 e a Holanda saiu na frente logo aos 2 minutos de jogo, com um gol de pênalti marcado pelo artilheiro do time naquela Copa: Neeskens. Mas como em 1954, a Alemanha virou o jogo com gols de Breitner (25 - pênalti) e de Gerd Müller, o artilheiro da Copa anterior, aos 43 do 1º tempo. Pela primeira e única vez na história das Copas uma final era definida com todos os gols na primeira etapa. E pela segunda vez, a Alemanha sagrava-se campeã batendo a equipe que jogava mais bonito, a equipe que era favorita. Era a Alemanha ganhando seu terceiro título mundial e destruindo o sonho de uma equipe que jogava bonito.

(Aqui temos acesso aos gols da final de 1974)

A Holanda ainda jogaria a Copa de 1978, novamente faria bonito, sucumbindo apenas para a seleção da Argentina. Pela primeira e única vez na história, uma mesma seleção perderia duas finais seguidas para as equipes que sediavam a Copa. O time de 1978 continuou a jogar bem (talvez não tanto quanto a equipe de 1974) e 12 dos 22 jogadores que foram vice-campeões em 1974 estiveram também em 1978, são eles: Arie Haan,Wim Jansen, Jan Jongbloed, Rene Van de Kerkhof, Willy Van de Kerkhof, Rudd Krol, Neeskens, Resenbrink, Johnny Rep, Wim Rijsbergen, Piet Schrijvers, Wim Suurbier. O técnico Rinus Michels saiu do comando da seleção logo após a Copa. Cruyff não foi à Copa na Argentina por problemas particulares, mas jogou até às vésperas da Copa.

Entre os dois vices-campeonatos, a Holanda brilhou na Euro de 1976, terminando na honrosa 3ª colocação, perdendo para a Tchecoslováquia na semifinal e vencendo a Iugoslávia, que era a sede, na prorrogação.

Cruyff depois tornou-se técnico e usou dos conhecimentos passados por Michels para brilhar no Barcelona do início dos anos 90. Michels foi eleito pela FIFA em 1999 como o treinador do século. Antes desta honraria, ele voltaria à seleção neerlandesa para vencer a Euro de 1988, diante da União Soviética, o único título da seleção da Holanda na história.

(Rinus Michels, o maior treinador de todos os tempos. Foto: wikipédia)

Se a Hungria inovou com um sistema tático novo e com a ênfase no preparo físico, a Holanda inovou ainda mais com um sistema de marcação bastante ofensivo, em que quatro ou cinco jogadores marcavam um mesmo jogador adversário e com a troca de posições, o que confundia demais os oponentes. Era difícil vencer este esquadrão. Em 1974 a Holanda igualaria o feito da hungria, com dois vices; Em 2010, já sem tanto brilho, mas com uma equipe muito boa, a Holanda chegaria novamente na final, perdendo para a Espanha, se tornaria a equipe com mais vices (dentre as que não foram campeãs - no geral, somente a Alemanha foi mais vezes vice: 4 a 3 para os germânicos). Um time fantástico este de 1974 e que merece a nossa singela homenagem. 

(Os onze que entraram para a história. Esse foi o Carrossel holandês. Foto: retirada da internet)

Galera, vamos ficando por aqui, voltaremos na próxima terça-feira com a última parte desta trilogia que conta as três equipes que encantaram o mundo e não venceram uma edição de Copas. Obrigado mais uma vez pela leitura e pela visita e te aguardo na próxima. Até lá!

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