Seleções do leste europeu: batendo na trave

Salve salve galera que nos acompanha por aqui, sejam mais uma vez muito bem-vindos ao nosso blog. Estamos hoje trazendo uma história que na verdade se trata de um tabu: as seleções do leste europeu, que tentaram,  mas não conseguiram (ainda) conquistar a Copa do Mundo. Venha comigo, no caminho eu te explico:

TCHECOSLOVÁQUIA DE 1934:

O leitor que tem menos de 30 anos certamente deve desconhecer a existência da Tchecoslováquia, já que hoje existem a República Tcheca e a Eslováquia. Mas antes estas duas nações eram unidas. E na segunda edição da Copa, em 1934, a seleção tcheca chegaria à final, sendo derrotada pela seleção da Itália, que jogava em casa e tinha uma "pressão" pelo título por parte de seu ditador, o fascista Benito Mussolini.

Nesta edição, a seleção tcheca fez o artilheiro: Nejedlý foi o goleador máximo, com 5 gols. A seleção não era uma das cotadas para o título, mas foi chegando devagar. O regulamento era diferente do que estamos acostumados hoje: não havia fase de grupos, as 16 seleções começavam já disputando o mata-mata até a fase final.

Em 27 de maio de 1934, a Tchecoslováquia iniciou a sua trajetória batendo a Romênia por 2 a 1; Em 31 de maio, a seleção tcheca bateu a Suíça por 3 a 2 pelas Quartas-de-Final; Em 3 de junho, vitória sobre a favorita Alemanha por 3 a 1; E em 10 de junho, derrota de virada na prorrogação para os italianos por 1 a 2.

Foram 4 jogos com 3 vitórias e apenas 1 derrota, com 9 gols marcados e 6 sofridos. Além do artilheiro Nejdelý, o meia Kostalék entraram na seleção dos melhores daquela edição. 

Esta foi a primeira seleção do leste europeu a sucumbir em uma final de Copa. E eles teriam outra oportunidade, que iremos ver mais abaixo.


HUNGRIA DE 1938: 
A seleção da Hungria tentou, por duas oportunidades ganhar a Copa. E em ambas, a taça em disputa era a Jules Rimet. Quando falamos na Hungria, lembramos de cara dos "Mágicos Magiares", a histórica seleção de 1954 que ganhou quase tudo que disputou, exceto a final daquela Copa. Mas antes desta seleção maravilhosa, devemos falar do time de 1938, que fez uma campanha brilhante, parando apenas para a seleção da Itália, que conquistaria seu segundo título seguido.

Em 1938, os húngaros fizeram uma grande Copa. O modelo de disputa era o mesmo da Copa anterior. Nesta edição, foram apenas 15, já que a Áustria, anexada pela Alemanha de Hitler na pré-Segunda Guerra Mundial e com seus atletas sendo obrigados a jogar pela seleção alemã, não foi à Copa e a FIFA optou por não colocar uma seleção substituta.

A Hungria jogou quatro partidas, ganhando três e perdendo apenas a finalíssima para a Itália. A seleção era comandada pelo meia Antal Szalay e o atacante György Sárosi (este marcou 5 gols , ficando atrás apenas de Leônidas da Silva, o maior artilheiro com 7 gols) entraram para a seleção da Copa. Além deles, o também atacante Gyula Zsengellér se destacou, marcando os mesmos 5 gols que seu companheiro.

A campanha da Hungria começou no dia 5 de junho de 1938 com a vitória sobre 6 a 0 sobre as Índias Holandesas, atual Indonésia, que disputou naquela ocasião a sua primeira e única Copa; Nas quartas-de-final, uma vitória "simples" : 2 a 0 sobre a Suíça no dia 12 de junho; Na semifinal, disputada no dia 16 de junho, goleada de virada sobre a Suécia: 5 a 1. E a finalíssima, diante da Itália, no estádio Olímpico de Colombes, em Paris, em 19 de junho, a equipe foi derrotada pela Itália por 4 a 2.

Foram 15 gols marcados e apenas 5 gols sofridos, esta seleção fez mais gols que a campeã, que marcou apenas 10.

E nesta edição, a seleção da Hungria fazia o que nem a badalada seleção brasileira faria. Terminaria em 2º enquanto que o Brasil, ficaria em 3º, ambos derrotados pela Azurra. A seleção seria fatalmente candidata ao título da Copa de 1942, que seria disputado na América do Sul, provavelmente na Argentina ou no Brasil, mas como sabemos, as duas Copas do mundo previstas para a década de 1940 acabaram sendo canceladas em virtude da Segunda Guerra. 

 HUNGRIA DE 1954:

Nós já publicamos aqui no blog um episódio todo especial falando desta maravilhosa seleção, que encantou o mundo, graças à algumas inovações: o esquema tático, com quatro atacantes, sendo o centroavante Hidegkuti recuando, atraindo a marcação dos adversários, dando espaço para Puskas, Kocsis (o artilheiro daquela edição, com 11 gols) e Czibor marcassem seus gols. Até hoje, nenhuma outra seleção marcou mais gols em uma edição de Copas que esta Hungria: foram 27 gols marcados e 10 sofridos.

A campanha dos "Mágicos Magiares" foi a seguinte: em 17 de junho de 1954, vitória de 9 a 0 sobre a Coréia do Sul (a segunda maior goleada de todas as Copas, atrás somente da mesma Hungria que em 1982 aplicou 10 a 1 sobre El Salvador); Em 20 de junho de 1954, a seleção húngara aplicou 8 a 3 numa Alemanha com time misto. Nas quartas-de-finais, por motivos que jamais entenderemos, os campeões de cada grupo se enfrentaram: em 27 de junho, Hungria e Brasil disputaram a chamada "Batalha de Berna", partida marcada por violência dentro das quatro linhas e pancadaria, que acabou vencida pelos húngaros por 4 a 2; Na semifinal, em 30 de junho, vitória sobre o atual campeão Uruguai por 4 a 2 na prorrogação. Era a primeira derrota da Celeste em Copas. E na final, em 4 de julho, a Hungria chegou a abrir 2 a 0 na Alemanha, que desta vez jogava completa, porém, os alemães viraram a partida, vencendo por 4 a 2, conquistando seu primeiro título e enterrando de vez a possibilidade de a Hungria conquistar o mundo.

As duas seleções húngaras foram prejudicadas por questões bélicas: se a seleção vice-campeã de 1938 não teve a chance na Copa seguinte devido a Segunda Guerra Mundial, a de 1954 sofreu com a revolução húngara de 1956, onde os jogadores que eram militares se recusaram a lutar. Eles estavam em excursão pela Europa, não retornaram ao seu país e com isso a FIFA aplicou uma sanção aos jogadores que ficaram sem poder exercer a sua profissão. Com isso, a seleção teve a sua história abreviada e certamente teria mais uma oportunidade na Copa da Suécia, em 1958, que acabou vencida pela seleção brasileira.
  
Com 4 vitórias e 1 derrota, esta seleção foi a primeira de fato a encantar o mundo, porém, sem levar a Copa. A Hungria tem um motivo de orgulho até os dias de hoje: jamais perdeu um jogo de Copa para o Brasil, são duas vitórias: o já citado 4 a 2 em 1954 e um 3 a 1 em 1966. Depois disso, a Hungria chegaria apenas nas Quartas-de-Final em 1962 e aplicaria a já citada goleada em cima da seleção de El Salvador, pelo escore de 10 a 1 em 1982, sendo seu último grande feito. Nunca mais a Hungria voltou a ser a seleção de outrora.  A Hungria teve como maior glória, a medalha de ouro dos Jogos Olímpicos de Helsinque, em 1952.


 TCHECOSLOVÁQUIA DE 1962:

A seleção da Tchecoslováquia voltaria a uma final de Copa 28 anos após ter perdido para a Itália. Desta feita, o adversário era o Brasil, sem Pelé, mas com um Garrincha e Amarildo inspirados. E assim como a Hungria que em 1954 enfrentou a Alemanha por duas vezes, uma vez na fase de grupos e outra na final, o mesmo ocorreu aqui. O confronto Tchecoslováquia x Brasil aconteceu da mesma forma que 8 anos antes. Na primeira fase, com Pelé que se machucou, a partida ficou no 0 a 0 (era o segundo empate sem gols na história das Copas, o primeiro também havia a seleção brasileira presente, em 1958, Brasil e Inglaterra ficaram no 0 a 0) e na final, deu Brasil.

Em 31 de maio de 1962, a Tchecoslováquia começou a sua trajetória batendo a seleção da Espanha por 1 a 0; Em 2 de junho, empate com o Brasil por 0 a 0 e na última rodada,, derrota para a seleção do México por 3 a 1 (esta seria a primeira vitória dos mexicanos em Copas). Beneficiada pela vitória do Brasil sobre a Espanha por 2 a 1 (vitória essa bem contestada, visto que o juiz não marcou pênalti a favor da Espanha e anulado um gol legal marcado por Puskas), os tchecos avançaram às Quartas-de-Final, em 10 de junho, vitória apertada sobre a Hungria por 1 a 0; Em 13 de junho, vitória sobre a Iugoslávia por 3 a 1 e na final, no dia 17 de junho, derrota de virada para a seleção Brasileira, que conquistaria seu bicampeonato, pelo placar de 1 a 3,

Assim como em 1934, a Tchecoslováquia perderia a final de virada. Uma triste coincidência. Foram 6 jogos em 1962, com 3 vitórias, 1 empate e 2 derrotas. 7 gols marcados e 7 gols sofridos. O goleiro Viliam Schorojf e o meia Masopust foram selecionados para o time daquela edição. Maspoust, inclusive, fez o gol que abriu o marcador na final.

Após esta edição, o mais próximo que a seleção Tcheca chegou de disputar uma nova final de Copa, foi na edição de 1990, quando terminou em 6º lugar, eliminada nas Quartas-de-final para a Alemanha que seria a campeã. Em 1993, as repúblicas Tcheca e Eslováquia se separaram amigavelmente (um caso raro, sobretudo após do colapso da União Soviética e de seu bloco comunista, no início dos anos 90). A seleção foi campeã da Eurocopa de 1976 e ganhou a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Moscou, em 1980. 


                                                                CROÁCIA DE 2018:

A seleção da Croácia, que outrora fazia parte da extinta Iugoslávia, tem uma história curta em Copas. Fundada em 1990, com exceção da Copa de 2010, disputou todas as Copas de 1998 para cá. E na sua estreia, já fez graça, ficando em 3º lugar após perder para a França de virada na semifinal e bater a Holanda na decisão de 3º e 4º lugares, ainda de quebra, fazendo o artilheiro daquela edição: Davor Suker, com 6 gols.

Mas é sobre a seleção de 20 anos depois que iremos falar, a seleção que começou nem tão bem cotada assim, porém, comandada pelos excelentes Luka Modric, Ivan Raktic, Ivan Perisic e o atacante Mario Mandzukic, a Croácia começou a sua campanha em 16 de junho deste ano, com vitória por 2 a 0 sobre a Nigéria; Em 21 de junho, vitória mais que convincente sobre a poderosa, porém, em crise, Argentina, pelo placar de 3 a 0; Na terceira e última rodada, com um time misto, no dia 26 de junho, vitória sobre a seleção da Islândia por 2 a 1. A Croácia terminava com 100% de aproveitamento, sendo uma das três únicas a conseguir tal feito (Uruguai e Bélgica foram as outras).

Nas Oitavas-de-Final, em 1 de julho, vitória nos pênaltis por 3 a 2 sobre a Dinamarca, após empate nos 120 minutos por 1 a 1; Nas Quartas-de-final, em 7 de julho, após novo empate nos 120 minutos, desta vez contra os donos da casa, a Rússia, por 2 a 2, a vitória veio nos pênaltis por 4 a 3. Na semifinal, em 11 de julho, novamente na prorrogação, vitória sobre a Inglaterra, de virada, pelo placar de 2 a 1. Na final, em 15 de julho, a Croácia lutou muito, mas perdeu para a França pelo placar de 2 a 4.

Esta seleção merece todos os louros, pois chegou à final após jogar a prorrogação em todos os jogos eliminatórios, o que somados, dão 90 minutos a mais (ou seja, na prática, a Croácia jogou o equivalente a uma partida a mais do que os outros três finalistas da Copa), numa situação inédita para um finalista. E muito provavelmente, o cansaço fez a seleção sucumbir para os franceses. Foram 7 jogos (oficialmente falando), com 4 vitórias, 2 empates e 1 derrotas. Foram 14 gols marcados e 9 gols sofridos. O meia Luka Modric foi eleito o melhor jogador da Copa e fez parte da seleção desta edição. E Davor Suker, que havia sido artilheiro em 1998, também esteve presente nesta edição, desta feita como presidente da federação croata de futebol.

Antes de encerrarmos, faremos menções honrosas às seleções da Iugoslávia, que terminou em 4º lugar por duas oportunidades: em 1930 no Uruguai, inclusive batendo o Brasil por 2 a 1 e em 1962, quando terminou em 4º lugar na Copa do Chile ao perder para o time da casa. A curiosidade é que as melhores campanhas desta extinta seleção se deram em continente sul-americano. Conquistou o ouro nos Jogos Olímpicos de Roma em 1960. A outra menção honrosa fica com a também extinta seleção da União Soviética, que chegou a um igualmente honroso 4º lugar em 1966, após perder para Portugal do imortal Eusébio. Conquistou o ouro por 2 vezes: em 1956, em Melbourne e em 1988, em Seul, nesta, inclusive, batendo o Brasil na final (Brasil que tinha na ocasião, cinco atletas que seriam campeões em 1994: Taffarel, Jorginho, Mazinho, Bebeto e Romário).

IUGOSLÁVIA DE 1962

 URSS DE 1966


E assim vamos encerrando uma homenagem às seleções do leste europeu, que carregam um tabu de jamais terem conseguido conquistar a Copa do Mundo. Em 2022, estas seleções terão nova oportunidade.

É isso ai, galera, vamos ficando por aqui, voltaremos na próxima sexta-feira com outra história legal sobre as Copas. Agradeço a sua visita, a leitura e te espero na próxima. Até lá!

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