Grandes Times - Parte I: Hungria de 1954

Salve salve galera que nos acompanha aqui no blog, sejam mais uma vez bem-vindos. Seguindo com nosso projeto sempre às terças e sextas-feiras. Iniciaremos uma trilogia, onde contaremos as histórias de três grandes times que encantaram o planeta em algum momento, porém, não conquistaram a Copa. São equipes que merecem o nosso respeito e o nosso papel enquanto um blog que preserva a história é não deixar com que as campanhas históricas deles caiam no esquecimento. E aqui vamos nós, venha comigo, no caminho eu te explico.

Vamos escrever a história de três times, um post para cada um destes times: hoje falaremos da Hungria, de 1954, que tem uma história muito bonita, uma campanha simplesmente maravilhosa, mas acabou sucumbindo na final. 
(Estes foram os Mágicos Magiares. Foto: retirada da internet)

Esta seleção que assombrou o mundo na primeira metade dos anos 50 era conhecida como "Os mágicos magiares", "Os Maravilhosos Magiares", "O Time de Ouro", "Os Poderosos Magiares" e "Aranycsapat (em húngaro)" e tem uma história muito bonita não só em Copas do Mundo, mas também no futebol.

Tudo começou no ano de 1950, quando o técnico húngaro Gusztáv Sabes decidiu pensar fora da caixinha. Explico: as equipes utilizavam basicamente o mesmo esquema tático - o famoso WM, que consistia em dois zagueiros, três volantes, dois meias e três atacantes. E ele notou que quando duas equipes com o mesmo esquema se enfrentavam, aconteciam "espelhos" nos duelos. Como ele tinha em mãos uma geração recheada de craques, ele criou o WW. Com esta bela sacada, um meia-atacante (a tarefa foi designada a Hidegkuti) era confundido pelos zagueiros adversários como um centroavante e com isso, os dois atacantes de fato (Puskas e Kocsis) ficavam livres para brilharem. E foi isso que eles fizeram.


(Gusztav Sabes - o homem que criou um esquema novo para que as feras jogassem o que sabiam. Foto: retirada da internet)


(Inovação do esquema tático implementado pelo técnico Gusztav Sabes. Foto: retirada da internet)

Outra inovação e que fez toda a diferença se deu na parte física. As equipes não eram muito preocupados com esta parte, como nos dias de hoje e esta equipe, que era base do Honved, clube húngaro que era o representante do exército daquele país, foi a pioneira neste aspecto. Os jogadores da Hungria entravam em campo para se aquecer antes das partidas, provocando estranhamento em quem estava n estádio. E isso foi adotado depois por todas as equipes.

O time ficou invicto por incríveis 32 jogos e conquistou respeito não somente pela Europa, mas por todo o Mundo ao vencer a Dr. Gerö Cup (uma competição entre seleções que tinha uma duração meio, longa, vamos dizer assim. A disputa começou em 1948 e só terminou em 1953), depois ao conquistar a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Helsinque (1952), além de ter sido a primeira seleção a vencer a seleção da Inglaterra, dentro de Wembley, falaremos no próximo parágrafo sobre este confronto.

Em 1953, a Inglaterra (sabe-se lá porque, gozava de um prestígio imenso no futebol, talvez por terem sido os inventores do esporte, uma vez que ganhariam uma Copa somente em 1966, jogando em casa e só disputou sua primeira Copa em 1950, por razões de soberba, ainda assim, conseguiu perder para a seleção "inexpressiva" dos EUA por 1 a 0 no estádio Independência, em Belo Horizonte) recebeu a seleção da Hungria em amistoso no estádio de Wembley e o resultado foi de 6 a 3 para os visitantes, carimbando a primeira dos inventores do futebol derrota em casa, numa partida que ficou conhecida como "The Match Of The Century" (o jogo do século). Uma revanche foi marcada, antes da Copa de 1954, em Budapeste e a Hungria foi ainda mais letal, aplicando 7 a 1 nos ingleses.

A Hungria se classificou automaticamente para a Copa de 1954 devido ao fato de a Polônia, que seria sua única adversária nesta disputa, acabou desistindo, então, os poloneses foram poupados de uma derrota provável.

Uma vez na Suíça, os "Mágicos Magiares" caíram no Grupo B, ao lado de Alemanha, Turquia e Coréia do Sul. Esta Copa teve um regulamento estranho na sua primeira fase, o que fez com que houvesse apenas duas rodadas (e não três como estamos habituados hoje). E se classificou em 1º lugar, deixando a Alemanha disputando uma vaga contra a Turquia em partida extra (sim, o regulamento era tão bizarro que não existiam critérios de desempate e sim um jogo extra).

A Hungria tem até os dias atuais, o melhor ataque de uma seleção em uma única edição de Copa: foram 29 gols em 5 partidas, uma média de 5,8 gols por partida. Só para que possamos ter uma ideia, a média de gols de toda a Copa foi de 5,38. Ou seja, o "Time de Ouro" teve uma média acima do geral. A Alemanha, que foi a campeã, marcou 25 gols e precisou de uma partida a mais. Jamais uma seleção foi tão avassaladora.

A estreia foi diante da Coréia do Sul, em Zurique, no dia 17/06/1954: goleada por 9 a 0. Puskas (2), Kocsis (3), Palotás (2), Lantos e Czibor foram os autores dos gols. Esta era a maior goleada das Copas e que seria igualada pela Iugoslávia sobre o Zaire em 1974, e superada pela mesma Hungria, em 1982, quando aplicou 10 a 1 em El Salvador. 


(A Hungria aplicou 9 a 0 na Coréia do Sul, o que seria a maior goleada das Copas, até ela mesma superar seu próprio recorde, em 1982. Foto: retirada da internet)

A partida seguinte seria uma prévia da final. Na cidade de Basel em 20/06/1954, a Hungria fez 8 a 3 numa Alemanha com 5 jogadores poupados. Como os magiares não tinham nada com isso, trataram de garantir a sua classificação e coube à Alemanha o jogo extra contra a Turquia. Kocsis (4), Hidegkuti (2), Puskas e Tóth foram os responsáveis pelos gols. Pela primeira e única vez na história uma equipe faria 17 gols em duas partidas da primeira fase e também pela primeira e única vez, um jogador faria um Hat-Trick em uma partida e quatro gols na partida seguinte: o artilheiro Kocsis conseguiu tal feito.

(Hungria 8x3 Alemanha. Foto: retirada da internet)

Chegou a fase Quartas-de-final e a Hungria, em 27/06/1954 teria pela frente os vice-campeões da edição anterior, o Brasil. Em partida que ficou conhecida como "A Batalha de Berna", por conta do clima hostil entre as duas equipes, com várias expulsões e uma pancadaria generalizada após o apito final. A Hungria venceu por 4 a 2 e Kocsis (2), Hidegkuti e Lantos marcaram.


(Aqui vocês podem ver os gols da vitória da Hungria por 4 a 2 sobre o Brasil, na "Batalha de Berna")

Depois de eliminar os vice-campeões, era a vez de enfrentar os atuais campeões, na cidade de Lausanne, em 30/06/1954: sim, caros leitores, a Hungria não teve moleza nesta Copa e o Uruguai era o adversário da vez. E haviam razões para se acreditar que a celeste poderia passar: a equipe era a única junto com a Itália que haviam vencido duas das quatro Copas disputadas, além disso, a seleção sul-americana não conhecia uma derrota na competição. E acabou conhecendo, na prorrogação, é bem verdade. Após empate em 2 a 2 no tempo normal, os húngaros fizeram dois na prorrogação e o placar de 4 a 2 diante do Brasil foi repetido. Kocsis (2), Czibor e Hidegkuti fizeram os gols.


(Aqui vocês podem assistir aos gols da semifinal, onde a Hungria bateu a seleção do Uruguai)

Era a hora da final e a cidade de Berna receberia em 04/07/1954 um confronto que já acontecera na primeira fase: e a Hungria enfrentaria a agora completa seleção da Alemanha, em partida que ficou conhecida como "O Milagre de Berna". O astro Ferenc Puskas estava de volta, após desfalcar a equipe nos dois jogos anteriores por contusão. A Hungria em 8 minutos de jogo já vencia a Alemanha por 2 a 0, com gols de Puskas e Czibor num campo encharcado devido a chuva torrencial que caia na hora da partida. A Alemanha empatou a partida ainda no primeiro tempo e o gol da virada aconteceu já na etapa final. Puskas ainda teria um gol anulado pela arbitragem, que (talvez) levaria a partida para a prorrogação. Reza a lenda que Adi Dassler, fundador da Adidas, patrocinadora da Alemanha, teria sugerido a troca das chuteiras com travas menos derrapantes para os jogadores alemães, o que teria ajudado os atletas a escorregarem menos que os húngaros. Outra curiosidade, foi a única partida em que o artilheiro Kocsis não deixou a sua marca. E fez falta!

Nunca iremos saber se essa ajuda aconteceu. Fato foi que este maravilhoso time da Hungria repetiria o resultado de 1938, o que não é nenhum demérito, mas certamente eles mereciam mais. Pela primeira vez na história, um grande esquadrão encantava o mundo, sem conquistar uma Copa.


(Os gols do "Milagre de Berna" - A Hungria perdia uma invencibilidade de 4 anos)

A Hungria ainda jogaria a Copa de 1958, porém, já sem o mesmo brilho e sem a maioria de seus craques, uma vez que em 1956, Puskas, Kocsis, Czibor, entre outros, acabaram saído do país em virtude do domínio da União Soviética sobre o país. Isto fez com que estes jogadores fossem considerados exilados políticos e do elenco vice-campeão 4 anos antes, apenas Grosics, Bozsik, Bundai e Hidegkuti estiveram presentes.

"Nós jogamos com alegria e eles jogaram disputando o título". - Ferenc Puskas, ao final da partida em que a Alemanha venceu por 3 a 2.


(Ferenc Puskas, o maior jogador da história do futebol magiar. Foto: retirada da internet)

Depois do vice-campeonato em 1954, a Hungria nunca mais repetiria tal performance em Copas, o máximo foi a goleada em 1982, já citada acima, sobre El Salvador. Uma seleção que fez história e cravou números que jamais serão igualados em Copas. Essa foi a nossa singela homenagem a este time que entrou para a galeria dos que encantaram, mas não levaram a taça.


 (Time de botão da Hungria de 1954. Foto: botaozamorim.com)

(Os heróis magiares. Foto: retirada da internet)

Durante esta saga, a Hungria fez 33 partidas, vencendo 28, empatando 4 e perdendo a partida mais importante, a final. Marcou 148 gols e sofreu 39. Kocsis é o segundo na artilharia em uma edição de Copas (11 gols), atrás apenas de Fontaine (13) e no geral, ele é o sexto, atrás de Klose (16), Ronaldo (15), Müller (14), o já citado Fontaine e Pelé (12). O  melhor ataque de uma equipe não-campeã e o melhor de todas as Copas, 27 gols. Desempenho espetacular, não? Faltou apenas a Jules Rimet. Coisas do futebol!


(Este era o cara, Kocsis. Foto: retirada da internet)

Cabe lembrar, que a seleção da Hungria é a única que tem duas vitórias em duas partidas contra a seleção brasileira. Além da vitória citada alguns parágrafos acima, em 1966, a Hungria repetiria a dose, que mais uma vez culminaria com eliminação da seleção canarinho.

Galera, é isso ai, vamos ficando por aqui, espero que vocês tenham curtido esse post. Voltaremos na sexta-feira, trazendo a segunda parte desta trilogia: falaremos da seleção da Holanda de 1974, o famoso carrossel, ou laranja mecânica. Agradeço a leitura e a visita e te espero no próximo. Até lá!

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